segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

“As palavras têm poder”


A expressão do título é uma que não canso de ouvir aqui em casa e realmente concordo com ela, pelo menos em parte. Acho que as palavras têm esse tal poder dependendo do contexto e da pessoa quem fala.
— Discordo. — diz Pyong levantando a mão. — Ouvir que eu sou gostoso, lindo e maravilhoso seja de quem for, me deixa feliz.
— Bem, no meu caso, ouvir que eu sou gostoso me faz pensar que a pessoa me quer nu.
— Nojento ¬¬
Enfim, é a verdade. Certas palavras têm, sim, grande poder, e “gostoso” é uma delas. Afinal, se você chama uma mulher de gostosa, ela vai achar que é uma deusa, não?
— Ou uma periguete.
Talvez, Pyong. Mas ainda assim é um elogio.
— Bastante exagerado se for dado a você.
¬¬
— Desculpa, é só a verdade. u.u
Continuando... como escritor, tento buscar novas palavras e me acostumar com algumas outras. Mas até hoje algumas ainda me soam fortes ou estranhas demais. Uma vez estava escrevendo uma cena onde um vilão xingava a mocinha e bem, eu fiquei com receio de fazê-lo falar “vadia”. Logo pensei que era uma palavra forte demais. Na verdade, acho que me dói pela própria personagem. Então fiquei nesse dilema, usar ou não usar “vadia”?
Foi aí que perguntei pra um amigo o que ele achava. Ele disse que não via mal algum em usar “vadia” visto que era um vilão que falava. Com receio, até sugeri se “vagabunda” não seria melhor, mas ele ainda preferiu “vadia”.
Mas fiquei pensativo... porque eu acho “vagabunda” menos ofensivo que “vadia”? Não que vagabunda seja um elogio, mas na minha cabeça estava longe de ser tão desagradável quanto vadia.
Então fiquei pensando em outras palavras fortes que eu tinha receio de usar como “vadia”. Lembrei na hora do verbo “chupar”. Não acho só esse verbo forte, como tenho medo dele. Medo porque eu penso que as pessoas vão interpretar mal se eu usá-lo. Acho que penso isso, porque eu mesmo o interpreto mal. Só consigo pensar em safadeza quando ouço esse verbo, por isso eu tinha bastante preconceito em usá-lo. Graças a Deus, em uma das minhas leituras, descobri o verbo “sorver”, que tem o mesmo significado que “chupar” e me parece muito menos obsceno.
— Kris, eu acho que essa tal obscenidade está apenas em sua cabeça.
— O que quer dizer com isso, Pyong?
— Que você é um tarado.
— O quê?!
— Ainda não entendeu? Você não vai me forçar a desenhar esse tipo de coisa, não é, seu pervertido?
— E você é bem santo, por acaso?
— As loiras caem aos meus pés sem eu precisar dizer nada.
— As loiras, é? rsrsrs
— É claro! u.u Elas são as primeiras que dizem que me amam! São muito fáceis!
— Deixa uma loira te ouvir falando isso pra ver se não apanhar!
Mas o Pyong me lembrou de uma coisa, não só palavras são fortes, com o conjunto delas pode ser arrasador.
— Uau, eu te lembrei de tudo isso?
Sim, me lembrou que expressões podem ser poderosas. E uma delas é o “eu te amo”. Eu diria que essa expressão não é só poderosa, como também é enigmática. Pensando bem, poderosa nem tanto. O “eu te amo” está muito banal hoje em dia. Mas que ela ainda causa muito estrago, isso sem dúvida.
Uma vez uma amiga me contou que o namorado dela disse que a amava em uma semana de namoro. A reação dela foi “Ah, beleza”, talvez por não acreditar que ele pudesse a amar ainda ou quem sabe por não sentir o mesmo. Segundo ela, a declaração dele foi casual, como se ele não tivesse pensando no que dizia. A meu ver, no entanto, isso me faz crer que ele realmente a amava. Talvez por estar emocionado, o sentimento aflorou e a declaração de amor saiu facilmente.
— Ou seja, ele apenas falou sem pensar, deixando-se levar pelo momento a fim de conquistar mais uns beijos da sua amiga.
— Pyong, assim você estraga minha visão romântica da cena. ¬¬
— Que bom! XD
Mas infelizmente o Pyong tem razão. Nesse caso, o “eu te amo” foi interpretado pela minha amiga como prematuro e talvez até fosse. Mas imaginemos que esse garoto tivesse a amado às escondidas por meses e ela estivesse ciente disso quando ele declarasse seu amor por ela. A interpretação para esse “eu te amo” não seria ultra romântica?
— Espera aí. — intrometeu-se Pyong. — Está dizendo que não só a pessoa e o espaço pode influenciar o poder de uma palavra, mas o tempo também?
— Exato! E o maior e mais simples exemplo disso seria a palavra “saudade”.
Não estou dizendo daquela saudade de amigas falsas: “Ai, amiga quanto tempo! Senti sua falta! Que saudade, miguxa!”
— Kris, tô estranhando O.o
— Desculpe! -.-‘ Passou.
Enfim, saudade é um claro exemplo de quanto mais tempo tiver se passado, mais forte a palavra fica.
Ah, me lembrei agora da palavra “língua”. Tenho uma amiga que costuma usar muito o emoticon do smile dando língua e ela me faz lembrar constantemente dessa palavra. Acho que há uns anos atrás a palavra “língua” que causava certo receio, porque eu tinha medo que as pessoas achassem a palavra nojenta. Principalmente quando se eu usasse “língua” em “beijo de língua”. Até hoje tenho medo de usar a palavra “língua” em descrições de beijos nas minhas histórias com meio que me pensem que sou nojento ou tarado demais.
Mas a palavra “língua” é uma das quais com o tempo foi sendo amenizada em minha mente, assim como sexo. Antes eu achava que era proibido falar sexo. Eu me lembro que eu até lia como “secho”, achando que se falasse “sexo” iam brigar comigo. Contudo, hoje sexo não me soa tão abominável assim. Só não costumo usar a palavra nos meus livros por achá-la muito pobre poeticamente. Não que “fazer amor” seja super original, mas eu acho que há formas mais interessantes de se insinuar o sexo. Algo como “ela se entregou aos carinhos dele” ou “eles se tornaram uma só carne” é legal e até soa romântico, mas particularmente eu prefiro o “eles se desvirginaram”. Acho o verbo “desvirginar” cômico e isso me parece bem mais a minha cara.
— Kris, não quero ser chato...
— Você é sempre chato, Pyong.
— Sim, é meu trabalho, mas só que você não ajuda também. Começou o post falando do poder das palavras e que tal poder é influenciado pela pessoa que fala, pela forma que se fala e pelo tempo em que se fala e então foi pulando de um exemplo para outro e eu ainda não encontrei a coerência em nada.
Bem, realmente fui um pouco disperso demais. Mas o que eu quis dizer com tudo isso é que as palavras não têm poder.
— Hã?! Como é que é?
Eu fiquei pensando agora, Pyong. As palavras que saem da nossa boca não são nada mais que um conjunto de letras. Quem dá a elas o poder são as pessoas, as interpretações dessas pessoas. Logo as palavras não tem poder algum, mas tem outra coisa.
— E o que seria essa outra coisa?
Esperança. As palavras têm esperança. Quem diz ofensas têm esperança que elas firam a pessoa. Quem diz um “eu te amo” tem esperança de agradar a pessoa amada e ter o sentimento correspondido.
— Certo... — Pyong me olha confuso. — Como chegou a essa conclusão?
Não cheguei à conclusão nenhuma, eu apenas olhei pra mim e percebi o que as minhas palavras contêm. Minhas palavras não têm poder pra nada, Pyong, nem quando eu falo, nem quando escrevo. Elas têm apenas esperança. Quando eu estou escrevendo uma comédia, estou fazendo com a esperança de causar algum sorriso em alguém. Quando eu escrevo um drama, tenho a esperança de emocionar alguém. Quando eu falo que amo alguém, tenho esperança que a pessoa perceba o quanto é importante pra mim.
É justamente por estarem recheadas de esperança que as palavras não tem poder algum. Eu posso implorar para uma pessoa ler meu livro, mas eu nunca vou conseguir forçar a pessoa a ler. Eu posso dizer o quanto gosto de uma menina centenas de vezes, mas nunca vou conseguir fazê-la gostar de mim. Porque as palavras não fazem as coisas acontecerem.
— Elas podem até não ter poder para fazer isso, mas como disse, as palavras contêm esperança. Logo elas transmitem algo. Dizer que elas não fazem as coisas acontecerem é burrice. Por terem esperança, as palavras são como a ignição de um carro.
Continue, Pyong.
— A pessoa nunca vai saber do seu livro se você não pedir para ela ler. A garota nunca vai saber que gosta dela e se questionar se gosta também de você se você não se declarar a ela.
Hum... Tem razão, Pyong. As palavras então têm esperança e o poder de ignição de pensamentos e sentimentos.
— Quase isso.
Bem, acho que é por isso que tenho medo das palavras então. Porque eu nunca sei que tipo de efeito essa ignição pode fazer.
— É, acho que seu medo de ser mal interpretado, seu receio das palavras “poderosas”, é justamente o medo dos efeitos da ignição das palavras.
Pyong, minha cabeça já está doendo dessa conversa toda.
— A minha também, você me fez pensar e dizer coisas muito inteligentes.
“Coisas muito inteligentes”? Aonde que eu não vi?
— Humf! Nego-me a discutir agora! Minha loira me espera agora! Adeus! — Pyong sai do quarto.
Pensando bem, meu pai comprou umas cervejas hoje. Será que a loira do Pyong seria...? Bem, isso explicaria porque elas caem tão fáceis no “charme” dele. Rsrsrs
Enfim, se você não entendeu muito coisa do post, acredite, nem eu. Mas é como o subtítulo do blog diz: ainda estou tentando me entender. Rsrs
Até a próxima!
E que assim seja!

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