quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A Primeira e Única Vez

Recentemente, terminei de jogar o jogo Outer Wilds. Um jogo indie de exploração espacial. Nele, finalmente ganhamos a licença de pilotar uma nave afim de viajar pelos planetas daquele sistema solar. O problema é, o sistema solar está morrendo, o sol está explodindo e levando tudo, exatos 22 minutos depois que decolamos. Depois de morremos, voltamos para o momento que ganhamos nossa licença. Presos nesse loop temporal de 22 minutos, no melhor estilo do filme Feitiço do Tempo.

Porque estamos presos naquele loop? Porque o sol está explodindo? Existe uma chance de salvar o sistema solar? Essas são umas das várias perguntas que o jogo faz a gente ter. Existe vários planetas para explorar e a sensação de medo, solidão e curiosidade é persistente durante toda jornada. Não posso falar muito mais do jogo, porque a experiência que Outer Wilds entrega brilha justamente no fato da pessoa não saber nada, de ir descobrir sobre o universo e as pessoas pouco a pouco e por si mesma.

Li alguém falando nos comentários do Youtube que Outer Wilds é o melhor do qual você não pode falar sobre. E um outro ainda que dizia que o jogo é a prova de que videogames são obras de artes, porque só um videogame poderia dar toda interatividade e imersão que o Outer Wilds dava. E eu lia aqueles comentários de maneira feliz, percebendo finalmente que eu queria mais do jogo, queria viver tudo aquilo de novo, queria continuar explorando, mas...

Eu não podia. Eu não ia conseguir.

Pelo menos, não com todas as surpresas, arrepios e choros da primeira vez.

A primeira e única vez daqueles sentimentos, estariam marcados para sempre em mim. Apesar disso, eles nunca mais brilhariam do mesmo jeito.  E fiquei de luto por isso.

Sabe aquele mesmo luto de quando você termina um bom livro? Ou aquele filme incrível que num instante virou seu preferido? Exato.

Foi aí que fiquei pensando. Quantas primeiras e únicas vezes eu queria ter de novo? Queria esquecer todo anime de Death Note e assistir de novo, só para achar tudo genial como na primeira vez. Queria esquecer Vingadores Ultimato só para me arrepiar todo ao ver os vingadores e o mundo se juntando contra Thanos.

Queria só ter o poder de viver todas essas emoções como se fossem a primeira vez.

Costumo ter dificuldades para dormir cedo e brinco que gostaria de ter um botão que me fizesse dormir num piscar de olhos. Eu gostaria também de ter um botão que apagasse memórias, que deixasse aquele filme, aquele jogo, aquele livro ser apagado da mente, só para poder viver ele de novo.

Mas enfim... só estou sendo uma criança birrenta, triste e enlutada depois de ver seu brinquedo preferido ser levado pelo vento.

Talvez o fato dessas experiências serem as primeiras e únicas é que tornem elas tão especiais. E eu talvez agora eu só esteja me conformando que elas nunca vão acontecer mais de novo. Embora pareça que eu estou terminando esse post triste, eu estou realmente grato por ter dito essa primeira e única vez.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Nunca?! Kkkkk

Cresci escutando a minha mãe falar que palavras têm poder. Que elas maldizem de maneira tão ferina, como podem abençoar de maneira tão graciosa. E eu sempre achei isso curioso, porque seguindo esse pensamento, todos nós somos donos de uma arma implacável. Arma essa que usamos de maneira cotidiana e descuidada, capaz de destroçar corações, quebrar relacionamentos e semear discórdia. Sim, elas podem fazer o bem, mas elas descem tão mais fácil quando diluídas no veneno.

E muitas são as palavras poderosas que amaldiçoam, mas a que mais me chama atenção é o “nunca”. E, meu querido, que palavra linda! Primeiro porque o “nunca” é ambíguo, cinza, neutro. “Ele nunca vai me deixar sozinha ou ele nunca vai mais voltar?”. Dependendo de como empregado, o “nunca” é capaz de dar fim a tudo! E é esse o segundo ponto pelo qual acho ela tão poderosa, é uma palavra que indica tempo, e tempo esse que é eterno.

Quando usamos o “nunca” queremos sempre expressar essa ideia de eternidade, de algo imutável. Sempre empregamos isso de modo tão convicto, que chega até ser engraçado. Como se seres efêmeros pudessem entender eternidade, como se seres de vontades tão inconstantes pudessem se manter imutáveis. Humanos não são capazes de usar uma palavra tão poderosa, não são capazes de usar todo o poder do “nunca”. E quando tentamos fazê-lo, o universo ri da nossa cara e nos devolve o “nunca” igual um tapa.

Quem nunca passou por isso?

Eu mesmo sempre disse que nunca gostaria de passas no arroz com galinha. Doce com salgado?! Não fazia sentido, era uma verdadeira atrocidade culinária. Até que o tempo me fez pensar que não fosse algo tão atroz assim, que havia algo singelo naquela pequena uva passa. Que ao mordê-la, uma explosão açucarada unia-se ao arroz numa harmonia culinária digna da mais perfeita ascensão divina.

Minha mãe também conta que, quando mais nova, ela era vizinha de um homem idoso chamado Deolindo. Quando escutava esse nome, ela sempre falava o quão feio esse nome era, mais do que isso, chegou até a dizer que nunca casaria com um homem chamado Deolindo. O universo riu dela e hoje minha mãe já tem vinte e sete anos de casada com um Deolindo.

Repito, humanos não são capazes de usar o “nunca”. É muito poder para mortais.

Cuidado com as palavras. Nunca perca o controle sobre elas.