Cresci escutando a minha mãe falar que palavras têm poder.
Que elas maldizem de maneira tão ferina, como podem abençoar de maneira tão
graciosa. E eu sempre achei isso curioso, porque seguindo esse pensamento,
todos nós somos donos de uma arma implacável. Arma essa que usamos de maneira
cotidiana e descuidada, capaz de destroçar corações, quebrar relacionamentos e
semear discórdia. Sim, elas podem fazer o bem, mas elas descem tão mais fácil
quando diluídas no veneno.
E muitas são as palavras poderosas que amaldiçoam, mas a
que mais me chama atenção é o “nunca”. E, meu querido, que palavra linda!
Primeiro porque o “nunca” é ambíguo, cinza, neutro. “Ele nunca vai me deixar sozinha
ou ele nunca vai mais voltar?”. Dependendo de como empregado, o “nunca” é capaz
de dar fim a tudo! E é esse o segundo ponto pelo qual acho ela tão poderosa, é
uma palavra que indica tempo, e tempo esse que é eterno.
Quando usamos o “nunca” queremos sempre expressar essa ideia
de eternidade, de algo imutável. Sempre empregamos isso de modo tão convicto,
que chega até ser engraçado. Como se seres efêmeros pudessem entender
eternidade, como se seres de vontades tão inconstantes pudessem se manter
imutáveis. Humanos não são capazes de usar uma palavra tão poderosa, não são
capazes de usar todo o poder do “nunca”. E quando tentamos fazê-lo, o universo
ri da nossa cara e nos devolve o “nunca” igual um tapa.
Quem nunca passou por isso?
Eu mesmo sempre disse que nunca gostaria de passas no arroz
com galinha. Doce com salgado?! Não fazia sentido, era uma verdadeira
atrocidade culinária. Até que o tempo me fez pensar que não fosse algo tão atroz
assim, que havia algo singelo naquela pequena uva passa. Que ao mordê-la, uma explosão
açucarada unia-se ao arroz numa harmonia culinária digna da mais perfeita ascensão
divina.
Minha mãe também conta que, quando mais nova, ela era
vizinha de um homem idoso chamado Deolindo. Quando escutava esse nome, ela
sempre falava o quão feio esse nome era, mais do que isso, chegou até a dizer
que nunca casaria com um homem chamado Deolindo. O universo riu dela e hoje
minha mãe já tem vinte e sete anos de casada com um Deolindo.
Repito, humanos não são capazes de usar o “nunca”. É muito
poder para mortais.
Cuidado com as palavras. Nunca perca o controle sobre elas.
Muito lindo meu neto
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