quinta-feira, 13 de maio de 2021

Nunca?! Kkkkk

Cresci escutando a minha mãe falar que palavras têm poder. Que elas maldizem de maneira tão ferina, como podem abençoar de maneira tão graciosa. E eu sempre achei isso curioso, porque seguindo esse pensamento, todos nós somos donos de uma arma implacável. Arma essa que usamos de maneira cotidiana e descuidada, capaz de destroçar corações, quebrar relacionamentos e semear discórdia. Sim, elas podem fazer o bem, mas elas descem tão mais fácil quando diluídas no veneno.

E muitas são as palavras poderosas que amaldiçoam, mas a que mais me chama atenção é o “nunca”. E, meu querido, que palavra linda! Primeiro porque o “nunca” é ambíguo, cinza, neutro. “Ele nunca vai me deixar sozinha ou ele nunca vai mais voltar?”. Dependendo de como empregado, o “nunca” é capaz de dar fim a tudo! E é esse o segundo ponto pelo qual acho ela tão poderosa, é uma palavra que indica tempo, e tempo esse que é eterno.

Quando usamos o “nunca” queremos sempre expressar essa ideia de eternidade, de algo imutável. Sempre empregamos isso de modo tão convicto, que chega até ser engraçado. Como se seres efêmeros pudessem entender eternidade, como se seres de vontades tão inconstantes pudessem se manter imutáveis. Humanos não são capazes de usar uma palavra tão poderosa, não são capazes de usar todo o poder do “nunca”. E quando tentamos fazê-lo, o universo ri da nossa cara e nos devolve o “nunca” igual um tapa.

Quem nunca passou por isso?

Eu mesmo sempre disse que nunca gostaria de passas no arroz com galinha. Doce com salgado?! Não fazia sentido, era uma verdadeira atrocidade culinária. Até que o tempo me fez pensar que não fosse algo tão atroz assim, que havia algo singelo naquela pequena uva passa. Que ao mordê-la, uma explosão açucarada unia-se ao arroz numa harmonia culinária digna da mais perfeita ascensão divina.

Minha mãe também conta que, quando mais nova, ela era vizinha de um homem idoso chamado Deolindo. Quando escutava esse nome, ela sempre falava o quão feio esse nome era, mais do que isso, chegou até a dizer que nunca casaria com um homem chamado Deolindo. O universo riu dela e hoje minha mãe já tem vinte e sete anos de casada com um Deolindo.

Repito, humanos não são capazes de usar o “nunca”. É muito poder para mortais.

Cuidado com as palavras. Nunca perca o controle sobre elas.